Trusts no Brasil: Como funcionam e por que são aliados do Planejamento Sucessório?

O planejamento sucessório é uma estratégia fundamental para garantir a organização e a proteção do patrimônio a longo prazo. Entre as diversas ferramentas disponíveis, os trusts têm ganhado espaço como aliados poderosos neste processo, oferecendo vantagens como a proteção dos ativos e a otimização da sucessão. 

Neste artigo, vamos explicar o que são os trusts, como funcionam no Brasil, como eles se integram ao planejamento sucessório e quais os principais benefícios e desafios de sua implementação.

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Planejamento Sucessório: Saiba o que é o Trusts e como ele funciona. | Foto: Freepik.

O que são trusts e como eles funcionam no Brasil?

Os trusts são estruturas jurídicas usadas principalmente para gestão patrimonial e planejamento sucessório. Embora sejam amplamente utilizados em países que seguem o sistema common law, como Estados Unidos e Inglaterra, no Brasil, ainda não há regulamentação específica para sua criação, mas existem formas de adaptá-los ou utilizá-los em jurisdições internacionais.

O que é um trust?

Um trust envolve três figuras principais:

 

  • Settlor (instituidor): A pessoa que cria o trust e transfere seus bens.
  • Trustee (administrador): O responsável por gerir os bens de acordo com as regras definidas pelo settlor.
  • Beneficiários: Aqueles que receberão os benefícios dos bens administrados.

 

Em resumo, o settlor transfere a propriedade de seus bens para o trustee, que os administra em favor dos beneficiários. Essa estrutura permite maior controle sobre como os bens serão distribuídos, proteção contra credores e até economia tributária em alguns casos.

Como funciona no Brasil?

Apesar de não haver uma legislação específica sobre trusts no Brasil, algumas alternativas podem ser usadas para propósitos semelhantes:

 

  • Holdings familiares: empresas criadas para organizar e proteger o patrimônio familiar.
  • Fundos patrimoniais: estruturas voltadas para projetos de longo prazo.
  • Trusts no exterior: muitos brasileiros criam trusts em países onde essa estrutura é regulamentada, como Estados Unidos ou Ilhas Cayman. Nesse caso, é necessário declarar os bens à Receita Federal e seguir as normas de câmbio e tributação.

 

Recentemente, projetos de lei buscam regulamentar aspectos tributários dos trusts no Brasil. Por exemplo, a Lei 14.754/23 trata da tributação de rendimentos gerados por trusts, mesmo que constituídos no exterior

Trusts e planejamento sucessório: uma combinação estratégica

A integração de trusts ao planejamento sucessório é uma das estratégias mais modernas e eficientes para garantir que a herança seja transmitida de forma organizada e protegida. Essa combinação permite que o titular dos bens mantenha o controle sobre como os ativos serão distribuídos, mesmo após sua morte, ao mesmo tempo em que protege o patrimônio dos riscos e conflitos comuns em processos de sucessão.

Benefícios da Integração

  • Controle e Continuidade: Ao utilizar um trust no planejamento sucessório, o instituidor pode continuar usufruindo dos bens enquanto define claramente as condições para a transmissão futura. Essa combinação garante que os ativos sejam preservados e que os beneficiários recebam seus direitos de forma ordenada.

  • Flexibilidade na Transmissão: O trust possibilita que o patrimônio seja dividido de maneira progressiva. Por exemplo, o instituidor pode estipular que determinados bens só serão transferidos quando os beneficiários atingirem uma certa idade ou cumprirem uma condição específica. Essa flexibilidade é valiosa para evitar que a sucessão ocorra de forma apressada ou desorganizada.

  • Mitigação de Riscos: A utilização de um trust reduz o risco de que os bens sejam dilapidados ou que surjam conflitos entre os herdeiros. Ao definir regras claras para a administração dos ativos e a partilha futura, o trust estabelece uma estrutura robusta que minimiza disputas e garante que a vontade do instituidor seja respeitada.

Estratégias de Planejamento

Para que a combinação entre trust e planejamento sucessório seja realmente eficaz, é imprescindível que o processo seja guiado por profissionais especializados que possam elaborar um instrumento jurídico robusto e adaptado às necessidades específicas do patrimônio. Essa estruturação deve levar em consideração não só as condições financeiras e patrimoniais, mas também as expectativas e as peculiaridades da dinâmica familiar.

Investir em um planejamento sucessório que utilize trusts significa apostar em um mecanismo que oferece tanto segurança quanto flexibilidade, permitindo que o patrimônio seja transmitido de forma planejada e alinhada com os objetivos a longo prazo.

Quais são as vantagens dos trusts para proteger o planejamento sucessório?

Os trusts oferecem uma série de vantagens que os tornam aliados valiosos no planejamento sucessório. Essas vantagens podem fazer toda a diferença na proteção dos ativos e na garantia de que a herança seja transmitida conforme a vontade do instituidor.

Segurança e Proteção dos Ativos

  • Separação do Patrimônio: Ao transferir os bens para um trust, o patrimônio passa a ser administrado de forma centralizada, o que protege os ativos de riscos externos e de possíveis disputas. Essa separação evita que questões pessoais ou dívidas individuais comprometam o valor do espólio.

  • Proteção Legal: Um trust, quando estruturado corretamente, oferece uma camada adicional de segurança jurídica. As cláusulas do instrumento definem de forma clara os direitos e obrigações de todas as partes, o que protege os bens e assegura que a transferência ocorra sem surpresas.

Flexibilidade na Transferência e Distribuição

  • Condições Personalizadas: O trust permite que o instituidor estipule condições para a transferência dos bens, como a idade mínima dos beneficiários ou o cumprimento de determinada obrigação. Essa flexibilidade garante que a transmissão dos ativos seja realizada de forma gradual e de acordo com a vontade do titular.

  • Administração Contínua: Enquanto o usufruto estiver vigente, o trust possibilita que o instituidor ou um administrador designado continue gerenciando os ativos. Essa gestão contínua assegura que os bens sejam mantidos em bom estado e que seu valor seja preservado até o momento da transferência definitiva.

Benefícios Fiscais e Econômicos

Embora não se trate de evasão fiscal, a utilização de trusts pode proporcionar benefícios tributários significativos. Por meio de um planejamento tributário adequado, é possível reduzir a carga tributária sobre a transmissão dos bens, aproveitando incentivos legais que tornam o processo mais vantajoso financeiramente. 

Esse aspecto é crucial para que o planejamento sucessório seja não apenas eficiente, mas também econômico, resultando em uma maior preservação do patrimônio.

Mitigação de Conflitos

Os conflitos familiares são comuns em processos de sucessão, mas o trust oferece mecanismos para evitar que essas disputas comprometam a partilha dos bens. Ao definir regras claras no instrumento jurídico e estabelecer um sistema de governança transparente, o trust minimiza as chances de desentendimentos entre os beneficiários. 

Essa prevenção de conflitos é essencial para a continuidade do planejamento sucessório e para a manutenção da harmonia familiar.

Como criar um trust no Brasil para o seu planejamento sucessório?

Criar um trust no Brasil para integrar ao seu planejamento sucessório exige a elaboração de um instrumento jurídico que respeite as particularidades do sistema legal brasileiro. Embora o trust em sua forma tradicional seja originário do direito anglo-saxão, há alternativas no Brasil, como o fideicomisso, que podem ser adaptadas para obter resultados semelhantes.

Passos para a Criação de um Trust

  1. Definição de Objetivos e Estruturação: O primeiro passo é definir claramente os objetivos do trust, que podem incluir a proteção dos ativos, a organização da sucessão ou a otimização da carga tributária. Determine quais bens serão transferidos para o trust e quais condições deverão ser cumpridas para a transferência total da propriedade para os beneficiários.

  2. Elaboração do Instrumento Jurídico: Com o apoio de um advogado especializado, elabore o instrumento jurídico que formalizará o trust. Esse documento deve detalhar:

    • Quem é o instituidor (quem está transferindo os bens);

    • Quem será o trustee (a pessoa ou instituição responsável pela administração);

    • Quem são os beneficiaries (os beneficiários, que podem ser herdeiros ou outras pessoas);

    • As condições e prazos para o usufruto e para a transferência definitiva dos bens.

  3. Regularização e Registro dos Ativos: Certifique-se de que todos os ativos a serem transferidos estejam devidamente documentados e regularizados. A formalização dos bens no trust deve ser realizada de acordo com as normas legais aplicáveis, para que a operação seja segura e validada.

  4. Planejamento Tributário Adequado: Um dos aspectos mais importantes é a integração de um planejamento tributário que maximize os benefícios fiscais. Consulte um contador especializado para estruturar o trust de forma a aproveitar incentivos e regimes especiais, garantindo que a carga tributária seja otimizada sem infringir a legislação.

  5. Acompanhamento e Revisão Periódica: Após a criação do trust, é fundamental monitorar a administração dos ativos e revisar periodicamente o instrumento jurídico. As mudanças na legislação ou na situação financeira dos envolvidos podem exigir adaptações para que os objetivos do trust continuem sendo alcançados.

Exemplos Práticos de Aplicação

Um exemplo prático pode ser o de um empresário que deseja proteger seu patrimônio e garantir que suas empresas e bens sejam transmitidos de forma organizada para seus herdeiros. Ao criar um trust (ou um fideicomisso adaptado), ele pode continuar usufruindo dos ativos durante sua vida, enquanto estabelece regras claras para a transferência definitiva após seu falecimento. Essa estratégia, além de preservar o patrimônio, proporciona segurança, flexibilidade e vantagens fiscais que tornam o planejamento sucessório mais robusto.

Outro exemplo envolve famílias com bens culturais e artísticos, onde a preservação do legado é essencial. Nesse caso, o trust pode ser estruturado para assegurar que, enquanto o instituidor mantiver o direito de uso, os ativos sejam protegidos contra desvalorização e preservados para que os herdeiros os recebam em perfeitas condições.

O planejamento sucessório aliado ao uso de trusts – ou arranjos semelhantes, como o fideicomisso – representa uma estratégia inovadora e eficaz para a proteção e a transmissão de bens. Ao adotar um trust, o instituidor transfere a propriedade dos ativos enquanto mantém o direito de uso, possibilitando uma gestão contínua e controlada do patrimônio. Essa abordagem oferece segurança, flexibilidade e benefícios fiscais significativos, além de facilitar a partilha dos bens de forma organizada e sem contratempos.

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