Planejamento Sucessório em União Homoafetiva: Quais particularidades?
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Planejamento Sucessório em União Homoafetiva: Quais particularidades?
O planejamento sucessório tornou-se uma ferramenta fundamental para garantir a transferência segura e eficiente de patrimônio entre gerações, independentemente da configuração familiar. Para casais em união homoafetiva, esse planejamento adquire contornos ainda mais relevantes, considerando as conquistas jurídicas recentes e os desafios específicos que esses casais podem enfrentar.
Apesar dos avanços significativos no reconhecimento de direitos, o planejamento antecipado da sucessão patrimonial para casais homoafetivos requer atenção a particularidades que podem influenciar a distribuição de bens e a proteção dos interesses do parceiro sobrevivente.
Planejamento Sucessório em união homoafetiva: quais são os detalhes. | Foto: Freepik.
Planejamento sucessório em uniões homoafetivas: direitos garantidos
A evolução jurisprudencial e legislativa trouxe conquistas importantes para as relações homoafetivas no Brasil. Em 2011, o Supremo Tribunal Federal reconheceu a "inexistência de hierarquia ou diferença de qualidade jurídica entre as duas formas de constituição de um novo e autonomizado núcleo doméstico", aplicando às uniões homoafetivas as mesmas regras e consequências das uniões heteroafetivas. Esse marco histórico garantiu aos casais do mesmo sexo todos os direitos patrimoniais aplicáveis às relações heterossexuais, incluindo regime de bens, alimentos, guarda e direitos sucessórios.
Com essa equiparação, os casais homoafetivos passaram a ter o direito de constituir matrimônio ou união estável, com todas as proteções legais que esses institutos oferecem. Em termos sucessórios, a decisão do STF de 2017 que declarou inconstitucional o artigo 1.790 do Código Civil fortaleceu ainda mais essa equiparação, estabelecendo que não pode haver distinção de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros.
Na prática, isso significa que o cônjuge ou companheiro sobrevivente em uma relação homoafetiva herda, pelo menos, metade dos bens do falecido, concorrendo com descendentes ou ascendentes, dependendo do regime de bens escolhido. Quando não há ascendentes ou descendentes, o parceiro sobrevivente tem direito à totalidade da herança, não mais concorrendo com parentes colaterais.
Marco legal das uniões homoafetivas no Brasil
O reconhecimento legal das uniões homoafetivas representa uma evolução significativa na proteção dos direitos civis da comunidade LGBTQIA+. A decisão do STF em 2011 estabeleceu as bases para que essas uniões pudessem ser formalizadas, trazendo segurança jurídica para casais do mesmo sexo.
A partir desse momento, um casal homossexual que mantém uma convivência duradoura, pública e contínua, estabelecida com o objetivo de constituição familiar (conforme previsto no artigo 1723 do Código Civil), passou a ter sua união estável reconhecida, com todos os direitos e obrigações decorrentes. Isso inclui não apenas questões sucessórias, mas também benefícios previdenciários, como pensão por morte e auxílio-doença.
A equiparação completa ocorreu em 2017, quando o STF julgou inconstitucional a diferenciação entre cônjuges e companheiros para fins sucessórios, tanto em relações heteroafetivas quanto homoafetivas. Com isso, os companheiros sobreviventes passaram a ter os mesmos direitos sucessórios que os cônjuges, sendo considerados herdeiros necessários com direito à legítima (50% do patrimônio).
Como incluir parceiros homoafetivos no planejamento sucessório?
Para garantir a efetiva proteção patrimonial em uniões homoafetivas, diversos instrumentos jurídicos podem ser utilizados como parte de um planejamento sucessório abrangente. Esses mecanismos permitem que os casais organizem a transferência de seu patrimônio de acordo com seus desejos, dentro dos limites legais.
O testamento é um dos principais instrumentos disponíveis, permitindo que o testador disponha de até 50% de seu patrimônio livremente (a chamada parte disponível), desde que respeitada a legítima dos herdeiros necessários. Para casais homoafetivos, o testamento pode ser especialmente importante para garantir que o patrimônio seja distribuído conforme a vontade do testador, especialmente quando há filhos de relacionamentos anteriores ou outros herdeiros.
Além do testamento, outros instrumentos podem ser incorporados ao planejamento sucessório de casais homoafetivos, como a doação em vida (inclusive com cláusula de reversão), a contratação de seguros de vida, a previdência privada e o estabelecimento de contratos de convivência que definam claramente o regime de bens aplicável à relação.
Instrumentos jurídicos para proteção patrimonial
A doação com cláusula de reversão é uma estratégia que permite ao doador estabelecer que, caso o donatário (quem recebe a doação) faleça antes dele, o bem doado retornará ao seu patrimônio. Esta cláusula deve ser expressamente estipulada e, no caso de bens imóveis, constar na escritura pública e no registro imobiliário.
Os seguros de vida são outra opção valiosa, pois o pagamento do benefício não entra no inventário e é pago diretamente aos beneficiários designados pelo segurado. Da mesma forma, a previdência privada pode ser uma ferramenta eficaz, já que também permite a indicação de beneficiários específicos.
Desde 2011, o reconhecimento do direito à pensão por morte para companheiros homoafetivos pelo INSS também representa uma garantia importante para essas famílias. No âmbito da previdência privada, embora os regimes não tratem especificamente da questão envolvendo dependentes de segurados em união homoafetiva, a intervenção estatal garante que não haja limitação ao exercício desses direitos fundamentais.
O estabelecimento de um contrato de convivência ou pacto nupcial também é essencial para casais homoafetivos, pois permite definir claramente direitos e deveres específicos para cada parceiro, protegendo seus interesses e estabelecendo questões como pensão alimentícia em caso de dissolução da união.
Planejamento sucessório: desafios específicos para casais LGBTQIA+
Apesar dos avanços legais, as famílias homoafetivas ainda enfrentam desafios específicos que tornam o planejamento sucessório ainda mais crucial. A falta de legislação específica para regular todas as configurações familiares possíveis pode gerar insegurança jurídica em determinadas situações.
Um dos desafios mais significativos surge quando um dos parceiros falece deixando filhos de uma relação heterossexual anterior. Nesse caso, pode ocorrer uma disputa entre o companheiro sobrevivente e o genitor da criança, tanto em relação à guarda quanto à administração dos bens herdados pelo menor.
Embora não se possa prever o resultado de uma ação judicial dessa natureza, o testamento pode se revelar uma ferramenta poderosa para minimizar riscos, permitindo que a pessoa exponha as razões pelas quais deseja que a guarda da criança fique com o companheiro.
Outro desafio enfrentado pelas famílias homoafetivas diz respeito ao reconhecimento da parentalidade. Em casos de filhos concebidos por técnicas de reprodução assistida ou adoção, é fundamental garantir o reconhecimento legal de ambos os pais ou mães. A falta desse reconhecimento pode gerar complicações significativas em termos sucessórios.
Parentalidade e sucessão em famílias homoafetivas
As configurações de parentalidade em famílias homoafetivas podem assumir diversas formas, incluindo a adoção conjunta, a inseminação artificial, a gestação por substituição (barriga solidária) e a coparentalidade. Cada uma dessas opções possui implicações específicas para o planejamento sucessório.
No caso da adoção conjunta, após sua finalização legal, ambos os adotantes são reconhecidos como pais ou mães, com todos os direitos e deveres correspondentes, incluindo os sucessórios. Em contraste, nas situações de reprodução assistida, pode ser necessário um processo adicional para garantir o reconhecimento legal do vínculo de parentalidade da pessoa que não contribuiu com material genético.
A filiação socioafetiva também é um conceito importante para famílias homoafetivas, pois reconhece os laços de afeto e convivência, permitindo que se estabeleçam legalmente vínculos parentais com filhos de seus parceiros. Esse reconhecimento é fundamental para garantir os direitos sucessórios dos filhos em relação a ambos os pais ou mães.
O reconhecimento da dupla maternidade ou paternidade é outra questão crucial para o planejamento sucessório dessas famílias, pois garante os direitos de guarda, visita e responsabilidade parental, além dos direitos sucessórios correspondentes.
Quais documentos são essenciais para proteger heranças em uniões homoafetivas?
A formalização adequada da união homoafetiva e a documentação correta são fundamentais para garantir os direitos sucessórios dos parceiros. Para casais homoafetivos que optam pela união estável em vez do casamento formal, a comprovação dessa união pode ser feita de diferentes formas.
A declaração de união estável é um dos documentos mais importantes e pode ser realizada por meio de escritura pública em cartório ou por declaração particular com firma reconhecida. Além disso, comprovantes de residência conjunta, documentos financeiros compartilhados (como contas bancárias conjuntas, contratos de empréstimos) e fotos que demonstrem a convivência do casal podem servir como prova da relação.
No caso de falecimento de um dos parceiros sem que a relação tenha sido formalmente documentada, o sobrevivente pode recorrer à ação de reconhecimento de união estável post mortem, embora esse seja um procedimento complexo, demorado e desgastante para todas as partes envolvidas. Por isso, a formalização prévia da união é altamente recomendável.
Formalização da união: garantia de direitos
A comprovação formal da união estável pode ser feita através de diversos documentos, dependendo da finalidade. Para fins gerais, os documentos mais comuns incluem:
- Escritura pública de união estável, elaborada em cartório de notas
- Certidões de nascimento ou casamento de ambos os parceiros (com averbação de divórcio, se aplicável)
- Documentos de identificação (RG e CPF)
- Comprovantes de residência conjunta
- Documentos financeiros compartilhados, como extratos bancários de contas conjuntas ou declarações de imposto de renda onde os parceiros apareçam como dependentes
- Contrato de convivência, se existente
Para finalidades específicas, como benefícios previdenciários, podem ser aceitos outros tipos de comprovação, como declaração pública de união estável, certidão de nascimento de filho adotado pelo casal ou decisão judicial que reconheça a existência da união.
Em situações em que um dos parceiros é estrangeiro, documentos adicionais podem ser necessários, como atestado de união estável emitido por autoridade competente no país de origem ou comprovante de união estável emitido por juízo competente no Brasil.
O contrato de convivência, embora não seja obrigatório, é altamente recomendável para casais homoafetivos. Esse documento permite estabelecer o regime de bens aplicável à relação, além de outras disposições patrimoniais relevantes. Pode ser elaborado por escritura pública ou instrumento particular, preferencialmente com orientação jurídica especializada.
O testamento, por sua vez, deve seguir todos os requisitos legais para garantir sua validade. No caso do testamento público, este deve ser lavrado por tabelião ou seu substituto legal em livro de notas, lido em voz alta na presença do testador e de duas testemunhas, e assinado por todos os presentes. Alternativamente, existem outras formas de testamento válidas no direito brasileiro, como o testamento particular e o testamento cerrado, cada um com seus próprios requisitos formais.
A escolha entre casamento e união estável também influencia os direitos sucessórios. Embora hoje estejam equiparados para fins sucessórios, existem diferenças práticas em termos de comprovação e formalização. O casamento, por ser registrado em certidão específica, oferece uma prova mais imediata da relação, enquanto a união estável, se não formalizada em cartório, pode demandar comprovação adicional.
A importância do planejamento sucessório para todos
O planejamento sucessório representa uma ferramenta fundamental para casais em união homoafetiva que desejam garantir a proteção patrimonial de seus companheiros e familiares. Apesar das conquistas significativas no campo jurídico, que equipararam os direitos de casais homoafetivos aos de casais heteroafetivos, a formalização adequada da relação e a utilização dos instrumentos jurídicos disponíveis continuam sendo essenciais para evitar problemas futuros.
A preparação antecipada, com a elaboração de documentos como testamento, contrato de convivência, e a formalização da união estável ou casamento, permite que os casais homoafetivos organizem sua sucessão patrimonial de acordo com seus desejos, dentro dos limites legais. Além disso, a utilização de instrumentos complementares, como seguros de vida, previdência privada e doações, pode ajudar a garantir a segurança financeira do parceiro sobrevivente.
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