Planejamento Sucessório para Famílias com Pessoas com Deficiência: Quais cuidados tomar
NOVO CONTEÚDO
Planejamento Sucessório para Famílias com Pessoas com Deficiência: Quais cuidados tomar?
O planejamento sucessório é a melhor forma de deixar organizada a vida financeira e pessoal da família e de quaisquer outros beneficiários após o falecimento de um ente querido. Quando falamos de famílias que possuem integrantes com deficiência, essa preparação antecipada torna-se ainda mais essencial e demanda atenção a aspectos específicos e legais.
Pensar no futuro de pessoas com necessidades especiais exige um olhar detalhado sobre suas particularidades, garantias de proteção e continuidade de cuidados a longo prazo, para que não fiquem desamparadas quando seus protetores ou curadores não estiverem mais presentes.
Planejamento Sucessório para familiar com pessoas com deficiência: saiba tudo. | Foto: Freepik
Por que o planejamento sucessório é crucial para famílias com PCDs?
O planejamento sucessório para famílias com pessoas com deficiência vai muito além da simples transferência de bens. Trata-se de uma estratégia vital que garante não apenas a segurança financeira, mas também a continuidade da qualidade de vida e dos cuidados necessários após o falecimento dos principais cuidadores.
Proteção jurídica especializada
A legislação brasileira reconhece a vulnerabilidade e as necessidades específicas das pessoas com deficiência. Conforme definido no Estatuto da Pessoa com Deficiência, considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo (mínimo de 2 anos) de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.
Esta definição ampliada, adotada a partir da Lei nº 13.146/2015, deixou de lado a ideia de que a deficiência é apenas aquela que incapacita a pessoa para os atos da vida independente e para o trabalho. Agora, ela é vista como uma condição que, em interação com barreiras sociais, limita a participação plena do indivíduo.
Nesse sentido, o planejamento sucessório precisa considerar esta abordagem mais abrangente, garantindo que a proteção jurídica seja adequada às reais necessidades da pessoa com deficiência.
Prevenção de desamparo e continuidade dos cuidados
Um dos maiores temores das famílias com membros com deficiência é o desamparo após o falecimento dos cuidadores principais. O planejamento antecipado ajuda a prevenir esse cenário, estabelecendo estruturas que garantem a continuidade dos cuidados necessários.
Sem um planejamento sucessório adequado, a pessoa com deficiência pode enfrentar diversas dificuldades, como:
- Perda de acesso a tratamentos e terapias essenciais
- Redução na qualidade de vida por falta de recursos
- Dificuldades na administração patrimonial
- Vulnerabilidade a abusos financeiros ou patrimoniais
- Riscos relacionados à moradia e subsistência básica
Preservação do patrimônio familiar e minimização de conflitos
O planejamento sucessório estruturado também serve para preservar o patrimônio familiar e reduzir a possibilidade de conflitos entre herdeiros. Isso é particularmente importante quando há necessidade de destinar uma parte maior do patrimônio para as necessidades específicas da pessoa com deficiência.
Ao estabelecer claramente as diretrizes para a distribuição patrimonial, considerando as necessidades especiais, você evita:
- Disputas judiciais que podem drenar recursos importantes
- Atrasos na disponibilização dos recursos necessários para cuidados
- Interpretações divergentes sobre as reais intenções do titular do patrimônio
- Tratamento desigual entre herdeiros sem considerar as necessidades específicas
Como garantir recursos financeiros para dependentes com deficiência?
A sustentabilidade financeira é um dos pilares fundamentais quando se trata de garantir o bem-estar futuro de pessoas com deficiência. Existem diversos mecanismos que podem ser utilizados para assegurar essa estabilidade.
Benefícios assistenciais governamentais
O Benefício de Prestação Continuada (BPC-LOAS) é uma importante fonte de recursos para pessoas com deficiência que não podem prover seu próprio sustento. Trata-se da garantia de um salário mínimo mensal, concedido pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Para ter direito ao BPC-LOAS, é necessário que:
- A renda por pessoa do grupo familiar seja igual ou menor que 1/4 do salário mínimo
- A pessoa tenha deficiência comprovada que cause impedimentos de longo prazo
- Seja cidadão brasileiro nato, naturalizado ou português com residência fixa no Brasil
- Não esteja recebendo outro benefício da seguridade social
É importante destacar que o BPC-LOAS não exige contribuição prévia ao INSS, por ser um benefício assistencial. Contudo, este benefício não paga 13º salário e não gera direito à pensão por morte.
Além disso, algumas instituições, como o Tribunal Superior do Trabalho, oferecem auxílios financeiros para dependentes com deficiência. Por exemplo, o Programa de Assistência Pré-escolar que beneficia dependentes de qualquer idade com deficiência cujo desenvolvimento corresponda à faixa etária de até cinco anos, com valor atual de R$ 935,22.
Instrumentos jurídicos de proteção patrimonial
Existem diversos instrumentos jurídicos que podem ser utilizados no planejamento sucessório para proteger o futuro financeiro da pessoa com deficiência:
Testamento com cláusulas específicas
O testamento é uma ferramenta fundamental que permite ao titular determinar a distribuição do seu patrimônio após o falecimento. Para pessoas com deficiência, pode-se incluir cláusulas específicas como:
- Definição de tutores ou curadores específicos
- Cláusulas de inalienabilidade para bens destinados ao sustento da pessoa com deficiência
- Diretrizes para administração dos bens
- Criação de rendas vitalícias ou usufrutos específicos
Doações em vida com reservas
Realizar doações em vida com cláusulas que protejam o patrimônio destinado à pessoa com deficiência pode ser uma estratégia eficaz. Essas doações podem incluir:
- Reserva de usufruto para os genitores enquanto vivos
- Cláusulas de impenhorabilidade para proteção contra credores
- Condições específicas para utilização dos bens doados
Constituição de holdings familiares
A criação de uma holding familiar pode centralizar e organizar o patrimônio, facilitando a gestão e a sucessão. Este instrumento permite:
- Administração profissional dos bens
- Planejamento tributário eficiente
- Definição clara de regras para usufruto e administração dos recursos destinados às pessoas com deficiência
Seguros e previdências específicas
Contratar seguros de vida e planos de previdência privada com beneficiários específicos é uma forma de garantir recursos financeiros imediatos em caso de falecimento:
- Seguros de vida com cláusulas especiais para beneficiários com deficiência
- Previdência privada com renda vitalícia
- Seguros que incluam cobertura para necessidades especiais
Planejamento sucessório: benefícios fiscais para famílias com PCDs
Um aspecto importante do planejamento sucessório para famílias com pessoas com deficiência é o conhecimento e aproveitamento dos benefícios fiscais disponíveis, que podem representar economia significativa.
Isenções fiscais em transmissão de bens (ITCMD)
O Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD) é um imposto estadual devido por toda pessoa física ou jurídica que receber bens ou direitos como herança, diferença de partilha ou doação. Contudo, existem isenções específicas que podem beneficiar pessoas com deficiência.
Por exemplo, no estado de Santa Catarina, o Decreto Nº 657 de 25/07/2024 introduziu isenção do ITCMD para "o herdeiro, o legatário ou o donatário que, na condição de pessoa com deficiência, seja considerado incapaz de prover a própria subsistência".
Para fins desta isenção, considera-se:
- Pessoa com deficiência aquela definida no caput do art. 5º da Lei nº 17.292/2017
- Pessoa incapaz de prover a própria subsistência aquela inscrita no Cadastro Único do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome ou que possua renda mensal inferior a 1 salário mínimo
É fundamental verificar a legislação específica de cada estado, pois as regras de isenção do ITCMD variam conforme a unidade federativa.
Benefícios relacionados à veículos
Outro aspecto relevante diz respeito às isenções fiscais na aquisição de veículos para pessoas com deficiência, como a isenção de IPI. Contudo, é importante notar que se o beneficiário da isenção falecer antes do prazo de 2 anos da aquisição, há consequências fiscais.
Para taxistas, existe previsão legal para a transferência do benefício para o cônjuge ou herdeiro. No entanto, para a pessoa com deficiência, a legislação atual não contempla essa transferência, o que significa que, em caso de falecimento, o cônjuge ou herdeiro terá que pagar o imposto integral com os devidos acréscimos.
Existe um Projeto de Lei do Senado (Nº 70/2013) que visa isentar do IPI a transferência por sucessão de propriedade de veículo adquirido com benefício fiscal há menos de dois anos. O argumento é que "a morte de um ente familiar já traz em si a dor da perda, não sendo justo que o herdeiro tenha de incorrer em despesas adicionais com tributos".
Planejamento tributário eficiente
Um planejamento sucessório bem estruturado também pode incluir estratégias de planejamento tributário que considerem as recentes mudanças legislativas. Por exemplo, a Emenda Constitucional n° 132/2023 (Reforma Tributária) prevê a obrigatoriedade de alíquotas progressivas do ITCMD, o que significa aumento na carga tributária sobre heranças e doações conforme o valor dos bens transmitidos.
Famílias que estruturarem e implementarem medidas de planejamento sucessório considerando essas mudanças podem obter redução considerável da carga tributária, especialmente se o planejamento for realizado antes da entrada em vigor das novas regras.
Quais documentos são essenciais no planejamento sucessório para PCDs?
A documentação adequada é fundamental para garantir a efetividade do planejamento sucessório para famílias com pessoas com deficiência. Documentos bem elaborados e atualizados são a base para a execução correta das vontades expressas e para a proteção jurídica do patrimônio.
Documentos jurídicos fundamentais
Testamento
O testamento é um dos principais instrumentos do planejamento sucessório, permitindo ao titular determinar a distribuição específica de seus bens. Para famílias com pessoas com deficiência, o testamento pode incluir:
- Designação de tutores ou curadores específicos
- Estabelecimento de fideicomissos ou rendas vitalícias
- Instituição de cláusulas de proteção patrimonial (inalienabilidade, impenhorabilidade)
- Diretrizes para administração dos bens destinados à pessoa com deficiência
Procurações e curatelas
Documentos que estabelecem representação legal são essenciais para garantir a continuidade da administração patrimonial:
- Procurações com poderes específicos para administração dos bens
- Termo de curatela (quando aplicável)
- Termo de tomada de decisão apoiada, conforme previsto no Estatuto da Pessoa com Deficiência
Contratos e acordos familiares
Outros documentos jurídicos importantes incluem:
- Pacto antenupcial ou contrato de convivência com cláusulas específicas
- Acordos societários, no caso de empresas familiares
- Contrato de constituição de holding familiar, quando aplicável
Documentos médicos e comprobatórios
Para garantir o acesso aos benefícios e proteções legais destinados às pessoas com deficiência, é fundamental manter documentação médica atualizada e adequada:
Laudos médicos específicos
Os laudos médicos são essenciais para comprovar a condição da pessoa com deficiência. Conforme legislação específica, como o Decreto Nº 657/2024 de Santa Catarina, o laudo deve:
- Ser emitido por profissional da rede de saúde pública nos 12 meses anteriores ao pedido (exceto se a deficiência for permanente)
- Indicar detalhadamente a categoria da deficiência
- Descrever as limitações funcionais existentes
Relatórios multidisciplinares
Além dos laudos médicos, é importante manter outros documentos que comprovem as necessidades específicas:
- Relatórios de terapeutas ocupacionais
- Avaliações psicológicas
- Relatórios de assistentes sociais
- Documentação escolar com informações sobre adaptações necessárias
Registros financeiros e previdenciários
O acompanhamento e registro adequado da situação financeira e previdenciária é fundamental:
Declaração de renda e patrimônio
Manter registros financeiros organizados facilita tanto o planejamento quanto a execução posterior:
- Declarações de Imposto de Renda atualizadas
- Inventário patrimonial detalhado
- Extratos bancários e de investimentos
Documentação previdenciária
Para acesso a benefícios como o BPC-LOAS, é necessário manter documentação específica:
- Comprovantes de renda familiar
- Cadastro no CadÚnico atualizado
- Documentação que comprove a composição familiar
- Comprovantes de despesas médicas e terapêuticas recorrentes
Apólices de seguros e planos de previdência
Documentos relacionados à proteção financeira futura:
- Apólices de seguros de vida
- Contratos de planos de previdência privada
- Designação formal de beneficiários
O planejamento sucessório para famílias com pessoas com deficiência deve ser revisado e atualizado periodicamente, especialmente quando há mudanças significativas na legislação, na composição familiar ou nas condições da pessoa com deficiência. A organização cuidadosa dessa documentação e a revisão regular são fundamentais para garantir que as medidas planejadas sejam efetivamente implementadas quando necessário.
O planejamento sucessório para famílias com pessoas com deficiência é um processo fundamental que vai muito além da simples transferência de bens. Trata-se de um conjunto de estratégias jurídicas e financeiras que visam garantir não apenas a segurança patrimonial, mas principalmente a continuidade da qualidade de vida e dos cuidados necessários aos membros mais vulneráveis da família.
As famílias que se preparam antecipadamente, utilizando os instrumentos jurídicos adequados, conhecendo os benefícios fiscais disponíveis e mantendo a documentação necessária organizada, conseguem estabelecer uma proteção muito mais eficaz para seus entes queridos com deficiência. Isso minimiza incertezas, reduz custos com impostos e evita potenciais conflitos familiares que poderiam surgir em momentos já emocionalmente difíceis.
Lembre-se que o planejamento sucessório não é uma ação única, mas um processo contínuo que deve ser revisado periodicamente, especialmente quando há mudanças significativas na legislação, na composição familiar ou nas condições da pessoa com deficiência. Quanto mais cedo você iniciar esse planejamento, maiores serão as possibilidades de construir proteções eficientes e personalizadas para as necessidades específicas da sua família.
Quer garantir tranquilidade para o futuro da sua família e proteção especial para seus entes queridos com deficiência? A Eu Herdei é especialista em planejamento sucessório personalizado, com conhecimento específico para famílias com pessoas com deficiência. Converse com nossos especialistas e descubra como podemos ajudar a construir um futuro mais seguro. Acesse nosso site e agende uma consulta!